Realizador: Vitaliy Manskiy
Argumento: "Vitaliy Manskiy"
Com: - desconhecido -
Género: Documentário
Uma equipa de filmagens passa um ano com uma família norte-coreana completamente normal em Pyongyang, na Coreia do Norte.
O realizador obteve autorização por parte do governo norte-coreano para filmar a vida desta família e mostrar ao mundo como é grande a Coreia do Norte e como tudo nela é bom, mas as imagens em off mostram que a realidade que estão a filmar não passa de mais um jogo de propaganda.
Um documentário não muito conhecido mas que custa a ver. Eu própria não consegui chegar ao fim tal era a violência das imagens.
Numa das primeiras cenas, mostra a filha do casal na escola e o que estão a ensinar às crianças? Que o "Generalíssimo" foi um grande homem porque afastou os comerciantes e os japoneses da Coreia do Norte, que são o inimigo e que devem odiar os inimigos. Vamos a ver, são crianças com não mais de 6-7 anos! E isto repetia-se mais de vinte ou trinta vezes, sem exagero.
A professora lia a pequena história e fazia perguntas, depois era uma criança a ler a história, a seguir liam todas em uníssono em voz alta, sempre com a professora a fazer perguntas "quem salvou o nosso país?", "quem é o nosso herói nacional?" Chega a uma altura em que não aguentamos mais aquela lengalenga. Eu comecei a sentir dores de cabeça só por estar sempre a ouvir o mesmo, como uma música irritante que não pára.
E todas as cenas são encenadas, há um género de guia que diz à família como agir, quando rir, como rir, o que comer. A família nem gravou as imagens na sua própria casa, a mãe trabalhava numa fábrica de leite de soja e, do que se sabe da sua vida real trabalha num género de café. Mesmo quando está tudo na fábrica, este "guia" mostra às empregadas o que dizer à mãe da criança e há todo um diálogo pré-preparado para dizerem. Há um tom para se dizer e não nos podemos esquecer que todos batem palmas a toda a hora quando estão "felizes".
Há cenas em que se nota que a criança está à beira de começar a chorar e é isso que mais me custa. Ela é um boneco, ela e os seus pais e todos aqueles que participam no documentário - documentário este que é suposto mostrar como é a vida de uma família norte-coreana na Coreia do Norte.
Mas de que estava eu à espera? É a Coreia do Norte e propaganda é o que se vende dali.
Depois de não conseguir terminar de ver o documentário por ser violento a um nível 1984 orwelliano, fui procurar mais informações sobre como foi feito este documentário.
O realizador obteve permissão para gravar a vida desta família sob uma condição: o argumento tem de ser escrito pelo próprio governo, é este que escolhe o local das gravações e, no final, decide quais imagens devem ser apagadas ou não. É por isso que numa das cenas do documentário, a família é vista a comer vários pratos "típicos" da Coreia do Norte e a dizer que cura várias doenças e atrasa o envelhecimento, entre outras coisas.
Tudo isto é, claro, ensaiado e o take que ficar melhor é o que vai para o final. O que o governo não sabia é que essas cenas também iriam para o documentário, boicotando assim o plano de mostrar ao mundo como as pessoas eram felizes sob o governo de Kim Jong-Un.
Milagrosamente, a produção conseguiu com ue essas cenas em off saíssem da Coreia do Norte sem o governo saber e colocadas no documentário.
É por isso que a criança, Zin-Mi, da qual eu até duvido o nome, já que nem o nome das pessoas foi revelado, aparece a chorar enquanto dança e quando lhe perguntam o que acha de entrar para a União de Crianças da Coreia do Norte.
Deixo-vos com o trailer só para terem uma noção do que vão apanhar se decidirem ver este documentário.
É um documentário duro de ver, muito mesmo, mas está excepcionalmente realizado!
Pontuação: 8/10
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